sexta-feira, 7 de março de 2014

Corda Esticando: 51% dos diretórios estaduais do PMDB já defendem uma pré-convenção em abril

Está mais avançada do que supõe o Palácio do Planalto a articulação para convocar uma pré-convenção do PMDB no mês abril. Sem alarde, os descontentes do partido do vice-presidente Michel Temer recolhem assinaturas dos presidentes dos diretórios estaduais da legenda. Dos 27, nada menos que 14 (51,8%) já assinaram ou se comprometeram a rubricar o requerimento. Para que o encontro aconteça, bastaria a adesão de nove diretórios.
Deve-se a deflagração do abaixo-assinado à bancada do PMDB na Câmara. Liderados por Eduardo Cunha (RJ), os deputados da legenda dividiram tarefas para apressar a coleta das assinaturas. Planeja-se formalizar o pedido já na terça-feira (11), dia em que os congressistas retornam do autoconcedido superferiadão de Carnaval.
“Queremos discutir com antecedência a formação dos palanques estaduais”, diz o deputado cearense Danilo Forte, vice-líder do PMDB na Câmara. “A ideia é liberar os diretórios para fazer as alianças que quiserem. O PT, com seu projeto hegemônico, está vindo para cima das nossas bases nos Estados. E nós achamos que esse debate deve ser feito antes da convenção de junho.”
Em viagem ao exterior, o líder Eduardo Cunha monitora os movimentos de sua bancada enquanto troca insultos com dirigentes do PT pelo Twitter. Permeado de adjetivos como “vagabundo”, “chantagista” e “pilantra”, o vale-tudo verbal foi tema da reunião que Lula, Dilma Rousseff e o alto comando do comitê reeleitoral mantiveram no Palácio da Alvorada na noite de quarta-feira (5).
Preocupado, Lula recomendou panos quentes. Nesta quinta-feira (6), num gesto incomum, o próprio Lula tocou o telefone para o senador Valdir Raupp (RO), que responde pela presidência do PDMB desde que Michel Temer licenciou-se do posto para exercer a vice-presidência da República. O padrinho de Dilma pediu a Raupp que o ajude a pacificar o pedaço rebelado do PMDB. Fez isso num instante em que a insubordinação personificada em Eduardo Cunha começa a contagiar membros da bancada peemedebista do Senado.
Raupp conversou também com Temer, que, a exemplo de Eduardo Cunha, está no estrangeiro. Depois, o senador desperdiçou parte do seu tempo disparando telefonemas para presidentes de diretórios estaduais do PMDB. Farejou o cheiro de queimado. Mas a extinção do incêndio exigirá mais do que meia dúzia de apelos de Raupp, um presidente que a maioria do partido considera, por assim dizer, decorativo.
Munido das quatro assinaturas que lhe coube recolher das 14 prometidas, o vice-líder Danilo Forte antecipa os próximos lances. “Em reunião marcada para terça-feira, vamos juntar as assinaturas. Se estiver tudo certo, vamos formalizar a entrega. Estamos inclusive convidando o Raupp para participar do encontro da bancada. Agora que ele está se arvorando em conciliador, convém conhecer as dificuldades que enfrentamos, já há algum tempo, na relação com o governo e o PT.”
Presidente do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal sob Dilma, ainda não foi seduzido pelos defensores da pré-convenção de abril. “Quero ver qual será a pauta. Se for para romper com o governo antes de junho, estarei lá. Se o texto for dúbio, se der magem à interpretação de que a pré-convenção tem o intuito de chantagear o governo para ter mais um ministeriozinho ou resolver problemas pontuais, não irei.”
Geddel acrescenta: “Se for uma pauta única, claramente voltada para liberar as coligações nos Estados, vou refletir. Considero desnecessário. Mas, por solidariedade, posso comparecer.” Adversário do PT baiano, Geddel tenta colocar em pé sua candidatura ao governo da Bahia. Negocia o apoio do PSDB e do DEM. E se dispõe a recepcionar em seu palanque o presidenciável tucano Aécio Neves.
Acha a pré-convenção desnecessária porque já se considera liberado para costurar no Estado o tricô que bem entender. Geddel pensa alto: “Michel Temer é vice-presidente hoje. A convenção de junho decidirá se ele será ou não candidato à vice-presidência em 2014. O quadro hoje é muito diferente de 2010, quando o PMDB estava unido”.
Geddel arremata seu raciocínio: “Ora, se o grupo favorável à reedição da aliança com o PT tiver uma força tamanha para decidir que o Temer será candidato a vice e que o partido não poderá ficar livre nos Estados, qualquer decisão que for tomada nessa pré-convenção estará caduca. O que vale é a convenção. Se, por outro lado, a candidatura do Temer não for aprovada e o partido nos libera, a pauta da liberação antecipada das coligações é desnecessária. Hoje, não há ninguém com autoridade no PMDB para me dizer que não posso conversar com quem eu quiser.”
Assim, o principal parceiro do PT na corrida sucessória —dividido entre o interesse de seus caciques regionais e a conveniência de Michel Temer. Dilma trata o parceiro na base do tranco porque sabe que, no plano federal, sua candidatura ainda é a única opção de que o PMDB dispõe. Dono de um faro mais apurado, Lula aconselha a pupila a descer do salto.
Na sucessão de 2002, Lula obteve o apoio do pedaço do PMDB controlado por José Sarney e Renan Calheiros. Mas a ala de Temer, então majoritária, aprovou em convenção a entrega do tempo de propaganda do partido no rádio e na televisão ao rival tucano José Serra. Eleito, Lula só reuniu todo o partido em torno de si depois que levou o PMDB da Câmara para a Esplanada dos Ministérios. Terminou de soldar as pontas ao aceitar Temer como segundo da chapa de Dilma, em 2010.
Hoje, não há no partido de Temer uma maioria capaz de empurrar o PMDB para dentro de uma coligação adversária. Mas Lula enxerga no prenúncio de derretimento da frágil unidade do PMDB o risco de o partido deliberar na convenção de junho que não apoiará nenhuma candidatura presidencial em 2014. Algo que retiraria de Dilma a vitrine televisiva do pseudoaliado, fragilizando-a.
Presente à reunião noturna do Alvorada, o ministro petista Aloizio Mercadante (Casa Civil) concederá nesta sexta-feira (7) uma audiência a Valdir Raupp. Pela cartilha de Lula, a conversa só fará sentido se Raupp sair do Planalto com algo que o torne menos decorativo aos olhos do naco rebelado do PMDB. Na dúvida, os organizadores do requerimento da pré-convenção fazem segredo dos nomes dos signatários. Tentam proteger-se da previsível pressão pelo esvaziamento da peça.

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